Protocolo 17.151.048 – 2021. 26 de junho de 2021, as 10:30:57

Protocolo 17.151.048 – 2021. 26 de junho de 2021, as 10:30:57 Análise da web de classe empresarial. Apresentada na plataforma de nível internacional do Google.
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sábado, 26 de junho de 2021

Inspirados na estratégia das companhias aéreas e dos fabricantes de salgadinhos, laboratórios e farmácias mergulharam no mundo das promoções.

 

Inspirados na estratégia das companhias aéreas e dos fabricantes de salgadinhos, laboratórios e farmácias mergulharam no mundo das promoções. Para aumentar seus negócios, os laboratórios estão oferecendo brindes aos farmacêuticos e balconistas que mais venderem seus produtos. Os prêmios vão de sacolas a computador. Nas drogarias, as campanhas também estão por todo lado. Há farmácias dando descontos de até 15% em função do tamanho da compra. A Drogaria São Paulo, uma das mais completas do país, lançou uma promoção para atrair 240 000 novos clientes por mês. Em despesas a partir de 20 reais, o freguês recebe um "cheque-prêmio" no mesmo valor, para juntar e trocar. Gastando 400 reais, ganha-se uma balança. A partir daí, os brindes vão melhorando -- medidor de pressão, aparelho de som etc., até chegar a uma viagem a Miami, para quem despender 20 000 reais num ano. No mercado, a prática é chamada de "empurroterapia".  Alguns laboratórios tratam a coisa com método. O Sintofarma, que produz o remédio Deltacid, contra sarna e piolho, promete calculadoras ao balconista que indicar o produto a uma pessoa da empresa que percorre as farmácias de surpresa disfarçada de cliente comum. "Mas só ganha quem vender Deltacid ou Deltacid Plus", avisa um anúncio, publicado em revista dirigida a funcionários de farmácias. Outros sugerem a venda desnecessária de remédios. Como um anúncio do Zentel, para lombrigas, que diz: "Verminose não é um problema individual, é familiar. Ao vender para um, venda para a família inteira".  Atrair apenas o consumidor ou estimular o balconista não basta. A estratégia inclui convencer o médico. Para isso, os laboratórios mantêm uma legião de representantes que passam o dia percorrendo consultórios e clínicas. São os chamados "propagandistas", que divulgam as virtudes dos produtos do laboratório para o qual trabalham. Há um propagandista para cada grupo de cinco médicos. O cardiologista Antônio Carlos Lopes, presidente da sociedade brasileira de clínica médica, atende cerca de quinze deles todas as semanas. "Se eu não colocasse limites, receberia de cinco a seis deles todos os dias", afirma. Um médico que teve a pachorra de contabilizar as visitas se espantou: em 21 dias úteis de um mês, recebeu 69 propagandistas, que deixaram 452 amostras grátis e 25 presentes. Os laboratórios têm até uma espécie de Ibope. Chama-se Auditpharma, uma empresa que instala nas drogarias máquinas onde se registram os remédios receitados por cada médico. No final do mês, a empresa envia aos laboratórios um relatório contendo o nome de médicos e o que cada um deles prescreveu. Com essa lista em mãos, os laboratórios podem ir -- e vão -- atrás dos profissionais que não receitam suas marcas para os convencer a mudar de idéia. Nessa aproximação, usam-se desde argumentos técnicos até os conhecidos jabás, como ofertas de viagens para participar de congressos no Brasil e no exterior. É natural que os laboratórios se sirvam de técnicas de comércio. O problema começa quando o paciente procura um clínico (ou um farmacêutico, como acontece em tantos casos) e acaba por comprar um remédio que não sabe bem se lhe foi indicado por necessidade ou por conveniência de mercado.

Combate ao abuso dever de todos -- Mas os brasileiros são mesmo campeões é no consumo de outro tipo de psicotrópico: os anfetamínicos, também conhecidos como "bolinhas" ou "rebites". Esses remédios eram usados pelo Exército alemão na II Guerra para que seus soldados não tivessem fome nem sono. Em tempos de paz, servem basicamente para suprimir o apetite nas dietas de emagrecimento. "Eles devem ser administrados apenas sob supervisão médica, depois de uma série de exames, e sua indicação restringe-se a certas formas de obesidade", explica o endocrinologista Alfredo Halpern, de São Paulo. "Infelizmente, em boa parte dos casos não é isso que acontece." O Brasil é o maior consumidor dessas drogas no mundo, com um volume de 20 toneladas por ano. Muito acima do segundo colocado, a China, com 8 toneladas.  O brasileiro poderia alegar que tem alguns motivos para ir à farmácia sem passar pelo médico. No hospital público, ele pegaria uma fila enorme para ouvir de um médico apressado a mesma coisa que provavelmente vai ser dita pelo balconista da drogaria. Na farmácia, ele economiza tempo e, com a contribuição de farmacêuticos irresponsáveis e balconistas despreparados, pode encontrar rapidamente o remédio que julga adequado. Depois, os remédios no Brasil são acompanhados de uma bula com todos os detalhes sobre indicações e efeitos, o que é um convite à automedicação. Em outros países, evita-se dar ao paciente essa chance de ser seu próprio médico. Também colabora com a automedicação uma legião de médicos que receitam aquilo que seus pacientes pedem. Para testar até onde os senhores doutores são capazes de ir, pesquisadores da Universidade de São Paulo visitaram 107 consultórios em São Paulo e no Recife identificando-se como pacientes comuns. Todos pediram para tomar "remédio para emagrecer". Menos de um terço dos médicos visitados exigiu exames antes de dar a receita. E apenas um não prescreveu moderador de apetite, contrariando o pedido do "paciente". Todos os remédios têm ação direta sobre a doença ou o sintoma contra o qual se destinam -- e produzem ao mesmo tempo uma série de efeitos colaterais. Dez ou vinte anos atrás, os efeitos colaterais eram basicamente adversos. Ou seja, faziam mal à saúde. Com os avanços da bioquímica, foi possível diminuir as reações adversas e até tirar proveito dos efeitos colaterais restantes. Assim, os médicos estão se habituando a receitar determinados produtos não apenas de acordo com seu uso principal, aquele descrito na bula. Pode parecer estranho, mas em certos casos já recomendam um medicamento apenas pelo efeito colateral. E funciona. É o que ocorre com o antidepressivo Anafranil, destinado a uso psiquiátrico. Ele vem sendo aplicado em casos de ejaculação precoce -- em doses dez vezes menores que nas indicações psiquiátricas. O Megestat, um remédio hormonal para tratamento de câncer de mama, passou a ser utilizado em portadoras do vírus da Aids quando se descobriu que provoca aumento de peso. E o Prozac, que controla a ansiedade, é receitado para emagrecimento de pacientes que comem compulsivamente. Além de diminuir a compulsão de comer, ele provoca perda de peso em 15% dos casos. "É uma prática válida, quando se conhecem o paciente e a ação de cada medicamento", explica o doutor Antônio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. "Mas é preciso tomar cuidado para evitar o abuso." Abuso, esta é a questão a reter. Os remédios são uma grande arma da humanidade contra a doença e a dor. Imagine-se ter de cortar um apêndice sem anestesia, precisar suportar um ataque cardíaco sem vasodilatadores ou enfrentar os tremores da malária sem um comprimido. Há algumas décadas, multidões morriam de tuberculose, sífilis, pneumonia e outras doenças que as drogas hoje curam com facilidade. O problema é que as pessoas precisam de remédios em situações raras -- e os tomam sem necessidade real a qualquer pretexto. "A natureza resolve sozinha 90% dos problemas de saúde do ser humano, e, em geral, pede-se aos médicos apenas que não atrapalhem", avalia o clínico Daniel Sigulem, professor da Escola Paulista de Medicina. "Naqueles 10% que dependem da mão humana e de suporte farmacêutico, não há dúvida de que o Brasil está muito mais bem servido de remédios hoje do que há quarenta anos, quando não existia medicamento para quase nada", afirma. Com a abundância de soluções, veio, porém, o uso exagerado. É isso que se precisa combater. 

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