Por
isso, a população deve estar atenta aos perigos do uso indiscriminado de
medicamentos: A automedicação pode levar a erros de diagnósticos, à escolha de
uma uma terapia inadequada e pode retardar o reconhecimento de uma doença, com
a possibilidade de agravá-la. Os medicamentos
que já foram anteriormente prescritos podem não ser mais efetivos para uma
reincidência da doença. A não ser que o médico já tenha orientado desta forma.
Sintomas iguais podem ter causas diferentes. Os sintomas são apenas um dos
indicativos de problemas de saúde. Antes da prescrição, a consulta médica, o
exame clínico e a realização de exames complementares são fundamentais.
Interações medicamentosas podem ter consequências graves para a saúde. O médico
tem competência para avaliar que tipos de medicamentos podem ser tomados em
conjunto. Os médicos devem ser cautelosos ao fazer suas prescrições, usando
letras legíveis ou prescrições impressas, além de orientar sobre o uso correto
e os cuidados quanto à substituição dos medicamentos prescritos. Com o
fracionamento das doses de medicamentos o Ministério da Saúde está ajudando a
evitar a automedicação e os riscos de intoxicação, pois desta maneira o
paciente leva para casa apenas a quantidade necessária para seu tratamento.
Cada um deve fazer a sua parte para evitar as complicações do uso
indiscriminado de medicamentos. No
Horizonte e em Fortaleza, nas turmas do Curso de Auxiliar de Farmácia muito se
debateu essa questão: “Levante a mão quem nunca se automedicou por causa de uma
dor ?”. É corriqueiro achar que ela é um mal passageiro, entupir-se de
analgésico e esperar até ela se tornar insuportável para ir ao médico. Estudos
indicam que 64% dos brasileiros tentam se livrar da sensação dolorosa sem
procurar ajuda. O caso deve ser avaliado e o “doente” deve procurar o médico em
todos os casos:
Dor de cabeça:
Dos 10 aos 50 anos, ela geralmente é causada por alterações
na visão ou nos hormônios — esta, mais comum entre as mulheres. E esses são
justamente os casos em que a automedicação aumenta o tormento. “Isso porque,
quando mal usado, o analgésico transforma uma dorzinha esporádica em diária”,
avisa o neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Júnior, chefe da Central da Dor
do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Acima dos 50 anos, as dores de cabeça
merecem ainda mais atenção: é que podem estar relacionadas à hipertensão.
Dor de garganta
Costuma ser causada pela amigdalite de origem bacteriana ou
viral. “Se não for tratada, a amigdalite bacteriana pode exigir até cirurgia”,
alerta o otorrinolaringologista Marcelo Alfredo, do Hospital e Maternidade
Beneficência Portuguesa de Santo André, na Grande São Paulo. A do tipo viral
baixa a imunidade e, em 10% dos casos, vira bacteriana. Portanto, pare de
banalizar essa dor. Se ela parece nunca ir embora, abra os olhos: certos
tumores no pescoço também incomodam e podem ser confundidos, pelos leigos, como
simples infecções.
Dor no peito
“Quando o coração padece, a dor é capaz de se espalhar na
direção do estômago, do maxilar inferior, das costas e dos braços”, descreve o
cardiologista Paulo Bezerra. Em geral, isso acontece quando o músculo cardíaco
recebe menos sangue devido a um entupimento das artérias. “A sensação no peito
é como a de um dedo apertado por um elástico. E piora com o estresse e o
esforço físico”, explica Bezerra. Não dá para marcar bobeira em casos assim: o
rápido diagnóstico pode salvar a vida.
Dor abdominal
Uma dica: o importante é saber onde começa. Uma inflamação da
vesícula biliar começa no lado direito da barriga, mas tende a se irradiar para
as costas e os ombros. Contar esse trajeto ao médico faz diferença. “Se a
pessoa não for socorrida, podem surgir perfurações nessa bolsa que guarda a
bile fabricada no fígado”, diz o cirurgião Heinz Konrad. Nas mulheres, cólicas
constantes — insuportáveis no período menstrual — levantam a suspeita de uma
endometriose, quando o revestimento interno do útero cresce e invade outros
órgãos. “Uma em cada dez mulheres que vivem sentindo dor no abdômen tem essa
doença”, calcula a anestesiologista Fabíola Peixoto Minson, do Hospital
Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Dor nas costas
A má postura e o esforço físico podem machucar a coluna
lombar. “É uma dor diária, causada pelo desgaste físico e pelo sedentarismo”,
diz o geriatra Alexandre Leopold Busse, do Hospital Sírio-Libanês, em São
Paulo. Conviver com o tormento? Essa é a pior saída. A dor nas costas, além de
minar a qualidade de vida, pode escamotear o câncer no pâncreas também. “No
caso desse tumor, surge uma dor lenta e progressiva”, ensina a fisiatra Lin
Tchia Yeng. Por precaução, aprenda que a dor nas costas que não some em dois
dias sempre é motivo de visitar o médico.
Dor no corpo
Se ele vive moído, atenção às suas emoções. A depressão, por
exemplo, não raro desencadeia um mal-estar que vai da cabeça aos pés. “O que dá
as caras no físico é o resultado da dor psicológica”, diz Alaide Degani de
Cantone, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde,
em São Paulo. “Quem tem dores constantes aparentemente sem causa e que vive
triste, pessimista, sem ver prazer nas coisas nem conseguir se concentrar
direito pode apostar em problemas de ordem emocional”, opina o psiquiatra
Miguel Roberto Jorge, da Universidade Federal de São Paulo. E, claro, essas
dores que no fundo são da alma também precisam de alívio.
A dor de
cabeça é, junto com a gripe, o problema de saúde que mais leva as pessoas ao
balcão da farmácia em busca de alívio. Durante um período de 24 horas, um em
cada vinte seres humanos no planeta manifesta algum tipo de cefaléia, em intensidades
variáveis. É como dizer que, em apenas um dia, toda a população dos Estados
Unidos estará implorando por um comprimido. A dor de cabeça é um fantasma que
ronda a humanidade há milênios -- personalidades como Miguel de Cervantes,
Edgar Allan Poe e Leon Tolstói penavam com dores crônicas. Franz Schubert, o
compositor, e pensadores como Freud e Darwin foram vítimas do mesmo problema.
Calcula-se que 18% das mulheres e 6% dos homens são atacados pela enxaqueca,
uma dor crônica favorecida por causas genéticas e deflagrada por fatores
ambientais. E 90% da população do mundo está sujeita a dores de cabeça
eventuais, causadas pelo nervosismo, stress ou frustração. O irônico é que, ao longo dos séculos, o
homem tanto se esforçou para eliminar o sofrimento que acabou piorando o
problema. Por tomar analgésicos demais -- uma freqüência superior a duas vezes
por semana já pode ser suficiente --, de 2% a 4% da população desenvolve um
tipo de dor crônica, que se manifesta mais de quinze vezes por mês. Imagine, dor
de cabeça provocada por remédio! No início o paciente reage aumentando a dose
de comprimidos, mas com o tempo nem dez Aspirinas são suficientes para amenizar
seu sofrimento. A dor pode durar 72 horas seguidas e o doente não consegue mais
trabalhar. Esse horror acontece porque o excesso de remédios afeta o equilíbrio
químico do cérebro, rebaixando os níveis de serotonina, um neurotransmissor
fundamental para a sensação de bem-estar. Para curar as vítimas dessa dor é
necessário passar por um longo processo de desintoxicação, que pode durar até
um mês. Nesse período o paciente não pode tomar um comprimido sequer, o que faz
com que ele sofra de "cefaléia do rebote", uma espécie de síndrome de
abstinência de remédios comparável à do viciado que foi afastado da
cocaína. Esses casos extremos, porém
mais comuns do que se imagina, são fruto de uma maneira pouco saudável de
conviver com os remédios. O paciente que não procura um especialista para
identificar a causa de suas dores acaba recorrendo à automedicação. Os médicos,
na maioria das vezes, também não estão preparados para lidar com um tipo de
doença que não conhecem e lhes parece simples demais. Nos últimos anos a
ciência catalogou mais de 150 tipos de cefaléia, com causas radicalmente
diferentes umas das outras. Algumas pessoas, por exemplo, sofrem dores de
cabeça sempre que comem em restaurante chinês. Elas podem passar a vida toda
sem descobrir que a culpa é de uma alergia ao glutamato monossódico, o tempero
mais usado nas culinárias orientais. Há até pessoas que sofrem dores de cabeça
intensas no momento do orgasmo -- tão fortes que são forçadas a interromper o
ato sexual. É uma situação extremamente constrangedora, de origem ainda mal
explicada, mas para a qual há tratamentos eficientes. A falta de informação é lamentável, porque
existem hoje remédios para tratar cada tipo de dor com muito mais eficiência
que as velhas Aspirinas. Eles agem diretamente sobre o mecanismo que
desencadeia as crises, mas precisam ser receitados corretamente. Na dúvida,
deve-se procurar sempre um médico de confiança. E prevenir, que é o melhor
remédio. Dormir regularmente, não ficar mais de cinco horas sem comer, evitar
exposição a luzes ou barulhos muito fortes. Para o dia-a-dia, no caso de uma
dor de cabeça eventual, pode-se tomar uma Aspirina, mas isso não pode
transformar-se em vício. É mais saudável recostar-se numa sala tranqüila, com
pouca luz, relaxar os ombros e fechar os olhos. Uma bolsa de água fria na testa
ou massagem no pescoço fazem melhorar bastante. Finalmente, se a dor se repetir
com freqüência, procurar um médico. A solução pode ser mais simples do que
parece. A cultura da automedicação,
somada a geniosidade do marketing, expõem inúmeras pessoas ao perigo. Pesquisa
feita pelo Ministério da Saúde em novembro de 2008 relata que apenas 30% dos
pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva conseguiram absorver os
princípios ativos que necessitavam. Munhoz
R.F.; Gatto A.M.; Fernades A.R.C; realataram em estudo que um dos principais
fatores que levam as pessoas a se automedicar. Tendo em vista os problemas
decorrentes da automedicação e principalmente quando esta é feita com uso de
antibióticos (o que pode aumentar a resistência do microrganismo e
transforma-los em uma bactéria multirresistente), a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) em outubro de 2010, modificou algumas regras para a venda
de antibióticos, que a partir de então passaram a ser vendidos em farmácias e
drogarias apenas com receita médica(Automedicação, no
http://www.portalfarmacia.com.br ; Acesso em 12 de Dez 2012; Os perigos da
automedicação (18/01/2012).Brasil se entope de remédios. Página visitada em
18/01/2013). Como citado Munhoz R.F.; Gatto A.M.; Fernades A.R.C; realizaram em estudo que um dos
principais fatores que levam as pessoas a se automedicar é achar que o problema
é pouco importante, o que se transcreve em um grande risco à própria saúde,
também relataram que a classe terapêutica mais utilizada no grupo pesquisado
foi a dos analgésicos, seguida dos anti térmicos e antiinflamatórios e que a
propaganda de medicamentos influencia na automedicação.
Está
chovendo remédio no Brasil. Jamais as pessoas consumiram tanto comprimido, os
médicos receitaram tanta pílula, os balconistas venderam tanta injeção,
pastilha, gotinha, vacina, xarope, pomada ou vitamina. A indústria farmacêutica
faturava 5 bilhões de reais em 1994. Com vendas em alta e um bom reajuste nos
preços, arrecadou o dobro no ano passado, 10 bilhões de reais. É mais do que
movimenta a construção civil, o dobro do que obtém a indústria de
eletrodomésticos. Com quase 2 bilhões de caixas comercializadas todo ano, o
Brasil já é o quarto na lista dos países que mais consomem produtos
farmacêuticos, embora esteja em posição vergonhosa na relação daqueles com
melhores indicadores de saúde. Em matéria de venda de remédios, o Brasil perde
apenas para os Estados Unidos, a França e a Alemanha. Nas ruas, o número de
farmácias aumentou quase 40% em dez anos. Segundo a Organização Mundial de
Saúde, o país precisaria de 25.000 drogarias para prestar um bom serviço à
população. Tem 48.000. Está em curso uma explosão, com o perdão da palavra,
medicamentosa. Há três motivos principais por trás dessa expansão. O primeiro e
o mais decisivo deles é o suspeito de sempre: o aumento do poder aquisitivo das
classes mais pobres depois da implantação do Plano Real. Segundo o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, do Ministério do Planejamento, 13 milhões de
pessoas passaram a comprar remédios a partir de 1994. Essa multidão antes
dependia da distribuição gratuita de remédios nos hospitais públicos. Se o
produto estivesse disponível, muito bem. Se estivesse em falta, azar. Agora,
pode gastar um pouco na drogaria da esquina. Outra razão para o aumento dos
gastos com medicamentos foi a abertura comercial, que abarrotou as farmácias de
novidades estrangeiras, sobretudo vitaminas, sais minerais e outros
complementos da nutrição que vêm sendo consumidos avidamente pelos brasileiros
mais abastados. A importação de medicamentos aumentou 50% no ano passado. Um
terceiro fator, este cultural, é a fascinação que o brasileiro sempre teve pelo
ato de entrar numa farmácia sem receita médica e sair de lá com um pacotinho
debaixo do braço. A automedicação é uma das manias nacionais, como a dançarina
Carla Perez ou os precatórios. Segundo
levantamento feito pela Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas,
Abifarma, algo como 80 milhões de brasileiros são adeptos da automedicação. O
Ministério da Saúde confirma: de cada três remédios vendidos no país, apenas um
é receitado por médico. Os outros dois são comprados por indicação de amigos,
parentes, revistas, jornais ou sugestão do próprio balconista da farmácia. As
vendas do antiinflamatório Cataflan, o medicamento mais consumido no país,
cresceram 62% nos últimos cinco anos. Foram 30 milhões de caixas, quase uma
para cada família brasileira, como se em todas as casas alguém tivesse sofrido
um doloroso inchaço em alguma parte do corpo. Na classe média, que já tinha
acesso aos medicamentos básicos, a mudança foi de estilo. O culto ao corpo, que
provocou a multiplicação das academias de ginástica, levou às alturas o consumo
de vitaminas e pílulas para emagrecer. Nos últimos três anos, as vendas de
vitaminas cresceram duas vezes mais do que a dos remédios em geral. A classe
média adotou outros hábitos não tão saudáveis, como consumir antidepressivos à
moda dos americanos -- mesmo sem a recomendação de um psiquiatra.
"Antidepressivo é para depressão, que é uma doença e tem quadro clínico
definido. Mas resolveu-se tomá-lo para curar tristeza, frustração ou
cansaço", afirma o psiquiatra Artur Guerra, chefe do departamento de
psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Conforme estudos médicos,
uma pessoa normal, com hábitos saudáveis, pode vir a precisar de três caixas de
remédio por ano, no máximo quatro. Os brasileiros estão consumindo onze -- oito
delas adquiridas sem orientação médica, por conta própria. Essa automedicação
não é uma característica exclusivamente brasileira, é bom que se diga. Existe
em todo o mundo. Acontece que nos países onde a comercialização de remédios é
feita com mais seriedade ninguém consegue comprar determinados medicamentos sem
receita médica. Em países como Brasil, Argentina, Paraguai, Tailândia e Iêmen
do Sul, o sujeito consegue obter sem receita médica alguns remédios que podem,
em certos casos, apresentar risco. Nos Estados Unidos, só se vendem livremente
alguns remédios para gastrite, Aspirina e vitaminas. Antibióticos, pílula
anticoncepcional e broncodilatadores à base de cortisona só podem ser
adquiridos com receita. Na Alemanha, até Novalgina é vendida com receita. Há uma convenção internacional feita a
partir de cores para definir quais remédios podem ser comercializados
livremente e quais dependem de prescrição médica. Essa convenção, que vale para
o Brasil, segue uma lógica científica e tem o propósito de separar remédios
mais leves dos produtos mais pesados. Em primeiro lugar, há os remédios
com tarja preta, os mais fortes. Esses só podem ser vendidos com a expedição de
uma receita médica, que deve ficar obrigatoriamente retida. Têm tarja preta
remédios para emagrecer como o Isomeride, calmantes como o Lexotan e
anticonvulsivos como o Gardenal. Em seguida, vêm remédios menos pesados mas
ainda assim com algum risco em determinadas situações. Esses levam uma tarja
vermelha. Estão nessa categoria medicamentos como os antibióticos, as drogas
para controle de pressão arterial e as pílulas anticoncepcionais. Finalmente,
há os remédios sem tarja alguma. Podem ser vendidos sem receita porque o risco
que representam para a saúde é muito pequeno. O padrão de consumo do brasileiro
na farmácia, de acordo com o poder aquisitivo
CLASSE
A
(Renda
de 4 000 reais, ou mais)
Vive
atrás de novidades e adora pedir aos médicos o remédio da moda. Adepto da
automedicação, escolhe seus medicamentos de acordo com o que lê nos jornais ou
ouve de amigos. É o principal consumidor de vitaminas feitas sob encomenda, em
farmácias de manipulação. A família gasta, em média, 200 reais por mês na
farmácia
CLASSE
B
(Renda
média de 2 000 reais)
Mantém
em casa um pequeno estoque de remédios, vai à farmácia com mais freqüência, mas
normalmente olha mais do que compra. Junto com a classe A, é o principal
consumidor de antidepressivos como o Prozac. Também consome coquetéis de
vitaminas importados, do tipo Stresstabs e Power Core. A família gasta em média
90 reais por mês na farmácia
CLASSE
C
(Renda
média de 900 reais)
Costuma
ir à farmácia quando o médico manda comprar um remédio ou quando sente dor. Em
média, visita drogarias uma vez por mês. Nas extravagâncias, consome inibidores
de apetite, como Inibex e Fluril
CLASSES
D e E
(Renda
de 500 reais, ou menos)
Só vai
à farmácia quando tem problema de saúde. Normalmente, não traz receita --
consulta com o próprio balconista e acata a sugestão. É responsável pelo
aumento nas vendas de analgésicos como Novalgina e Anador. Eventualmente,
recorre a postos de saúde para conseguir remédios
Na
maior parte dos países desenvolvidos, a convenção é levada a sério. No Brasil e
em muitos dos seus companheiros de Terceiro Mundo, burla-se a regra. Nos
Estados Unidos, faz-se uma automedicação light, quase inócua. Aqui, os remédios
de tarja vermelha são vendidos livremente sem receita médica e os de tarja
preta são prescritos com liberalidade em algumas farmácias é possível até
mesmo obtê-los sem a prescrição do médico. "Estamos comprando muito
remédio e alguns potencialmente perigosos", alerta o psicobiólogo Elisaldo
Carlini, ex-secretário nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde,
uma autoridade no assunto. Uma situação que deve ser evitada, pelos
“auxiliares” é determinar, orientar ou sugerir a auto medicação. Além de ser um
crime por prática de exercício profissional ilegal, coloca em risco a saúde
pública dos usuários. A automedicação é
a prática de ingerir medicamentos sem o aconselhamento e/ou acompanhamento de
um profissional de saúde qualificado, em outras palavras, é a ingestão de
medicamentos por conta e risco por um indivíduo. Drogas perigosas -- Na lista
dos dez remédios mais consumidos nos EUA estão pílulas para o coração,
antidepressivos e comprimidos para controlar a pressão, nenhum deles vendido
sem a receita. No Brasil, a lista dos dez mais procurados é diferente, muito
mais leve. Dela constam pela ordem o Cataflan (analgésico e antiinflamatório),
a Novalgina (analgésico e antitérmico), o Voltaren (analgésico), a Neosaldina
(analgésico), o Redoxon (vitamina), o Microvlar (anticoncepcional), o Sorine
(descongestionante), o Lexotan (tranqüilizante), o Hipoglós (pomada para
irritação da pele) e, por último, no décimo lugar, o Buscopan
(antiespasmódico). O conteúdo da lista é tranqüilizador. Seria calamitoso se os
medicamentos mais consumidos pelos brasileiros fossem, em vez de analgésicos,
remédios pesados de tarja preta. Mas até mesmo esses medicamentos leves para
curar a dor podem embutir algum risco se o uso for prolongado. Na maior parte
dos casos, uma dor de cabeça é apenas uma dor de cabeça e o melhor é tomar logo
o analgésico, da mesma forma que a irritação no esôfago tende a ser quase
sempre provocada por azia e nada mais. O risco está no comportamento
repetitivo. Se uma pessoa tem uma doença mais grave que se manifesta em
princípio por uma dor, essa doença pode ficar escondida pela utilização
continuada de pílulas contra a dor. Preocupa também os médicos o consumo
excessivo de antibióticos. Ingeridos em demasia, podem causar intoxicação. A
longo prazo, seu emprego desordenado, ainda que sem doses excessivas, permite
que as bactérias que se queria combater criem resistência contra os
antibióticos usados pela pessoa de forma intermitente. Na festa da
automedicação, o que mais assusta é o interesse dos consumidores por drogas
mais perigosas. Os psicotrópicos, por
exemplo. Uma pesquisa do Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas
Psicotrópicas mostrou que, depois dos solventes (cola de sapateiro, éter,
clorofórmio), as drogas mais consumidas pelos jovens não são maconha nem
cocaína, mas anfetaminas e calmantes, eventualmente misturados com álcool. A
constatação rendeu um alerta no relatório da Divisão Internacional de Controle
de Narcóticos da ONU, no ano passado. Embora esses remédios só sejam
comercializados com retenção de receita, não há controle satisfatório sobre as
vendas. A vigilância sanitária simplesmente não passa nas farmácias para
recolher as guias de compra.
Psicotrópicos
– Definição e Controle.
Os
Psicotrópicos - Drogas que afetam a mente. As substâncias químicas naturais que
podem alterar os processos psíquicos são conhecidas desde tempos imemoriais,
especialmente as de origem vegetal, como o álcool, o ópio e a Cannabis. Essas e
outras drogas foram empregadas na medicina antiga e o seu uso se manteve até o
alvorecer dos tempos modernos. Hoje esses medicamentos são receitados
normalmente às pessoas tensas ou nervosas e aos pacientes das clínicas
psiquiátricas. Mas por lei foram equiparados aos entorpecentes e a sua venda é
controlada, porque, usados abusiva ou indevidamente, podem causar
farmacodependência.
Conceito. O psicotrópico (psique = mente; topos =
alteração) é um produto que age sobre o cérebro, modificando suas reações
psicológicas. O termo indica, segundo Delay e Deniker, o conjunto de
substâncias químicas, de origem natural ou artificial, que tem um tropismo
psicológico, isto é, que são suscetíveis de modificar a atividade mental sem
prejudicar o tipo desta modificação.
Controle
Jurídico e Social.
Prescrição
de antidepressivos aumentou até 83% entre 2009 e 2011, segundo a ANVISA.
Ansiolíticos e calmantes estão entre os mais vendidos e são largamente
utilizados no atendimento hospitalar. Uma em cada cinco pessoas no Brasil tem
algum tipo de transtorno mental, de acordo com o Ministério da Saúde. O
tratamento desses distúrbios quase sempre implica o uso de drogas psicoativas,
medicamentos que afetam o estado mental do usuário. Mas o próprio governo e
especialistas reconhecem que há um exagero na prescrição das drogas. No começo
do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostrou-se
preocupada com o aumento da venda de antidepressivos e calmantes — só a de
clonazepam, conhecida como Rivotril, pulou de 29,4 mil unidades em 2007 para
10,5 milhões em 2010. O Distrito Federal segue a onda tarja preta: os cinco
remédios mas vendidos nas farmácias — tanto os industrializados quanto os
manipulados — são psicotrópicos. De
acordo com dados da Anvisa, enquanto em 2009 eram vendidas no DF 4,91 caixas de
Rivotril para cada 100 habitantes, em 2011 esse índice pulou para 7,4, um
aumento de mais de 57%. Os demais psicotrópicos acompanharam a alta. O consumo
de fluoxetina cresceu em dois anos 83% e o de alprozalam, 45% (veja quadro).
Segundo Filipe Braga, psicólogo do Centros de Atenção Psicossocial (Caps) II do
Paranoá, como nem sempre os pacientes são atendidos por especialistas, o uso de
psicotrópicos acaba sendo a solução padrão. "Em Brasília, muitos dos
pacientes que têm crise às 2h acabam indo para o pronto-socorro de hospitais
gerais ou para o Hospital Psiquiátrico de São Vicente de Paula, em Taguatinga,
o único que fica aberto todo o tempo para transtornos mentais."
Até
durante o dia, ressalta Braga, o contato com profissionais especializados é
difícil. "Não tem como colocar a culpa só nos psiquiatras, o erro está no
sistema, em como a saúde mental é tratada no Brasil. É preciso que haja o
diálogo, o carinho, mas isso não é possível com 800 pacientes para pouquíssimos
profissionais", critica o profissional. Um Diretor de Saúde Mental da
Secretaria de Saúde do DF, reconhece que as condições de atendimento distantes
do ideal impactam diretamente no consumo de remédios. "Se o Estado não promover a contratação de funcionários com número
suficiente para atender todos pacientes, tanto na área pública quanto privada,
a tendência é que o tratamento fique focado exclusivamente na medicação",
avalia. Segundo as autoridades sanitárias melhoras no sistema estão previstas.
"São 2,6 milhões de habitantes. Se considerados os atendimentos do
Entorno, chega a cerca de 4 milhões. A rede que temos hoje necessita de
ampliação. Por isso, o plano diretor da pasta prevê a instalação de 46 Caps até
2015. Só em Brasília, DF. E o restante do país?. As autoridades destacam ainda que a
prescrição excessiva de calmantes não é uma realidade apenas brasileira.
"É mundial. Dão ao medicamento um poder que ele não tem. Há um exagero na
valorização dos remédios como se a medicina se reduzisse apenas ao poder das
substâncias. VAMOR REFLETIR EM SALA DE AULA?
Ao constatar um quadro de hipermedicação de pacientes com
transtorno mental na rede de atenção primária de saúde e nos Centros de Atenção
Psicossocial (Caps) do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, um
grupo de pesquisa do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
constatou que problemas como a falta de profissionais e a banalização do
consumo desses medicamentos contribuem para que os limites sejam ultrapassados.
A análise foi feita em mais de um ano de pesquisa e, segundo especialistas, os
problemas encontrados se repetem no resto do país. A tese é confirmada
pelo presidente da Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP). De a ABP, a realidade dos Caps é a de muitos pacientes
para poucos médicos, o que dificulta um atendimento mais cuidadoso e acaba, por
vezes, resultando na medicação como processo paliativo para resolver
rapidamente os sintomas. Criados após a
reforma psiquiátrica brasileira para substituir os hospitais psiquiátricos, os
Caps realizam o tratamento dos pacientes na própria comunidade e junto das
famílias, evitando a internação psiquiátrica integral. Apesar disso, segundo a
professora Rosana Onocko-Campos, coordenadora da pesquisa acima comentada, há
pouco diálogo entre os profissionais da saúde e os usuários, que costumam
desconhecer o motivo ou o tempo de duração das terapias medicamentosas. "É
como se houvesse um ponto cego, o ponto menos reformado da reforma",
critica. Ouvida pela imprensa a
brasiliense Maria do Rosário, 49 anos, conta que toma remédio controlado desde
os 8. Hoje diagnosticada com síndrome do pânico, ela ingere uma média de 360
comprimidos por mês de um antidepressivo com propriedades sedativas, que atua
também como um bloqueador dos ataques de pânico. Sobre a possibilidade de
diminuir as doses, ela cita uma frase que sua médica psiquiatra sempre fala:
"Em time que está ganhando, a gente não mexe. Eu não consigo ficar sem
remédio. Já estou há 41 anos tomando, se eu ficar sem, por causa da crise do
pânico, não consigo nem sair de casa. Na rua, se uma pessoa vem andando na
minha direção, já acho que ela quer me pegar", conta Maria. O estudo acima
referenciado ressaltou ainda a medicalização da população, fenômeno que
transforma as situações corriqueiras em objeto de tratamento da medicina.
"Muitas vezes, a mulher chega triste ao ambulatório porque brigou com o
marido, o filho foi preso, mas não chega a ter um diagnóstico de depressão. Só
que, para essas situações de tristeza, ela ganha um ansiolítico, um
antidepressivo para acalmar os nervos", critica a pesquisadora. O
Ministério da Saúde foi procurado pelo Setor de Jornalismo da Imprensa, Correio
para comentar sobre a hipermedicação de pacientes com transtorno mental no
serviço público de saúde, mas afirmou "que a prescrição é uma relação
entre médico e paciente e não cabe ao ministério intervir".
Ação no sistema nervoso. Psicotrópicos são drogas que agem no sistema
nervoso central. Podem ser ansiolíticos, indicados para diminuir a ansiedade e
a tensão; calmantes, que causam de sonolência até o estado de inconsciência; e
antidepressivos, usados para tratamento
de depressão.
Sinal de alerta. Medicamentos industrializados mais vendidos
no DF e em outras regiões do Brasil:
Substância /
Indicação / Caixas para cada 100 habitantes / Crescimento de 2009 a 2011
1º Clonazepam
(Rivotril) / Calmante
/ 7,74 / 57%
2º Fluoxetina /
Antidepressivo / 4,42
/ 83%
3º
Amitriplina / Antidepressivo /
3,26 / Não constava em 2009
4º Alprazolam /
Calmante / 2,90
/ 45%
5º Sertralina / Antidepressivo /
2,76 / Não constava em 2009
Medicamentos
manipulados mais vendidos:
Substância Indicação Miligramas per capta Crescimento*
1º
Anfepramona / Emagrecedor
/ 38,53 / 44%
2º Fluoxetina /
Antidepressivo / 22,37
/ 15%
3º Bupropiona /
Antidepressivo / 9,52 / Não constava em 2009
4º Sertralina /
Antidepressivo / 8,82 / 47%
5º
Femproporex / Emagrecedor
/ 5,13 / 4%
Fonte: Sistema
Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados / Anvisa.

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